A questão “Pessoas idosas fazem sexo?” é cercada por preconceitos e tabus que muitas vezes obscurecem a realidade. O envelhecimento humano envolve mudanças fisiológicas, anatômicas e psicológicas, podendo ser visto como um processo natural e irreversível que marca o último estágio da vida. No entanto, valores culturais tradicionais que associam sexualidade à juventude e reprodução, junto com crenças sobre o papel das pessoas idosas, criam um ambiente onde a expressão da sexualidade na terceira idade é desencorajada.
Essa negligência reflete-se nas políticas públicas de saúde, com poucas campanhas ou pesquisas focadas na sexualidade de pessoas idosas e na prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Como resultado, repercute-se a situação de maior vulnerabilidade e risco de exposição aos casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) associada ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e Sífilis entre a população com 60 anos ou mais. Esse preconceito e desvalorização da sexualidade da população idosa não só comprometem sua saúde física e mental, mas também despersonalizam e estigmatizam os relacionamentos afetivos, reduzindo a qualidade de vida.
Um estudo publicado na New England Journal of Medicine com 3.005 homens e mulheres entre 57 e 85 anos revelou que 81% dos homens e 51% das mulheres não dispensavam sexo. A prática sexual entre idosos é comum, mas ainda enfrenta discriminações e tabus que impedem uma vivência sexual plena. Estudos realizados no Brasil mostram que muitos idosos mantêm uma vida sexual ativa e estão satisfeitos com suas experiências, embora influências históricas, culturais, religiosas e midiáticas perpetuem preconceitos sobre a sexualidade na terceira idade.
Esses preconceitos são reforçados por ideias equivocadas sobre a função reprodutiva e a libido das pessoas idosas, além da opressão familiar, especialmente em relação às mulheres viúvas. Há necessidade de desconstruir esses estereótipos para garantir que as pessoas idosas possam desfrutar de uma vida sexual ativa e natural, reconhecendo a sexualidade como uma dimensão essencial da experiência humana.
É reconhecido que relacionamentos interpessoais, sejam eles sexuais ou afetivos, estão intimamente relacionados a uma melhor qualidade de vida, aumento da autoestima e manutenção da dignidade do ser humano. Portanto, evidencia-se a importância de ampliar o cuidado com as pessoas idosas, a fim de que sejam caracterizadas as nuances de comportamento sexual em uma visão, de fato, integrada desses indivíduos. A desconstrução dos tabus e preconceitos é fundamental para proporcionar as pessoas idosas uma vida sexual ativa, saudável e plena, contribuindo para seu bem-estar geral e qualidade de vida.
Sugestão para leitura:
1. New York Times. EUA: Pesquisa indica que maioria dos idosos faz sexo. Agência de Notícias da AIDS 2007.
2. Costa EPS, Serafim DBL, Silva ATV, Barbosa GA. O tabu social atrelado a sexualidade dos idosos: uma revisão sistemática. In: Sampaio EC. (Org.). Envelhecimento humano: desafios contemporâneos. Guarujá, SP: Científica Digital. 2020; 480-488.
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