A discriminação racial no Brasil é uma realidade persistente, especialmente nos serviços de saúde, onde a população negra enfrenta barreiras para o acesso de qualidade. Dados alarmantes mostram que homens negros têm duas vezes mais chances de morrer por qualquer causa em comparação com homens brancos, e as mulheres negras apresentam índices mais altos de mortalidade materna. Contudo, medir e comprovar essas desigualdades ainda é um desafio.
Por isso, o desenvolvimento de instrumentos específicos para mensurar a discriminação racial, como o DRISS (Enfrentamento da Discriminação Racial Interpessoal nos Serviços de Saúde), torna-se estratégico para a produção de dados confiáveis. Esses instrumentos fornecem evidências que permitem o monitoramento da qualidade do atendimento e a criação de estratégias possíveis para o combate ao racismo, que impacta diretamente a saúde da população negra.
A mensuração rigorosa da discriminação racial é um passo indispensável para transformar uma realidade que, embora observável, muitas vezes se dissipa na abstração da convivência racial “pacífica”. O mito da democracia racial funciona como um véu que encobre as desigualdades raciais, dificultando a construção de políticas públicas eficazes e a formulação de estratégias de enfrentamento adequadas.
A construção de um instrumento como o DRISS oferece, nesse sentido, uma ferramenta capaz de captar nuances específicas da discriminação racial no Brasil, ao contrário dos modelos importados, majoritariamente oriundos dos Estados Unidos, que refletem contextos raciais diferentes.
Desenvolver ferramentas de mensuração adaptadas à realidade brasileira permite a coleta de dados específicos sobre o racismo. Isso é fundamental para fortalecer, por exemplo, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). A discriminação racial é observável e, portanto, passível de mensuração.
O desenvolvimento de instrumentos robustos e validados para captar essas manifestações, cria uma base importante para o enfrentamento do problema, gerando evidências que podem fundamentar tanto ações imediatas quanto mudanças à médio e longo prazos. Dessa forma, verifica-se que os instrumentos de medida de discriminação racial podem ser aliados estratégicos na luta antirracista no Brasil, especialmente nos serviços de saúde.
Sugestão para leitura:
1. Santa Rosa PLF, Borges ALV, Araújo EM. Validação de conteúdo do instrumento percepção sobre discriminação racial interpessoal nos serviços de saúde (Driss). Saúde e Soc. 2021; 30(1). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902021000100304&tlng=pt
2. Carvalho D, Meirinho D. O quesito cor/raça: desafios dos indicadores raciais de mortalidade materna como subsídio ao planejamento de políticas públicas em saúde. Rev Eletrônica Comun Informação e Inovação em Saúde. 2020; 14(3). Disponível em: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/1905
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