O trajeto de uma vida humana é uma incógnita desconhecida na equação do tempo que geri o existir. A vida é uma coletânea de momentos e eventos que podem ser interrompidos sem nenhuma singeleza ou cerimônia. Lutamos diariamente, mesmo sem refletir, quase que automaticamente, contra o maior inimigo de qualquer um de nós, um fator conhecido e destruidor: a morte. Ainda não aprendemos a driblar definitivamente este fator da vida humana tão desagradável e produtor de sentimentos difusos, paradoxais e também destrutivos, mesmo que os superemos com o passar do tempo.
Sabemos que estas primeiras palavras são verídicas porque são empíricas. Por mais que tentemos não conseguimos nos ausentar delas, embora desejássemos; e gostaríamos de não nos lembrarmos, mais; no entanto a presença do grito da incógnita na equação do tempo não nos deixa esquecer a finitude da vida.
Certos que não podemos nos livrar da morte pensemos, então, como podemos ter melhor qualidade de vida. Neste ponto a reflexão nos conduz a vereda da saúde integral. Ou seja, refletir como podemos tratar de forma mais adequada possível a saúde do ser humano em suas diversas áreas.
Claramente não se pode dar reposta única as diversidades do ser humano e sua saúde. Há muitos profissionais especializados que cuidam dessas variantes que compõe a vida e, portanto, coletaríamos muitas respostas diferentes, todas com graus de excelência e úteis para melhorar a saúde humana e condicionar o ser a uma vida mais longeva, porém, ainda, finita.
Entre essas áreas coloca-se a espiritualidade. É constitutivo no ser humano a noção ou impressão de que há algo maior que possa dar razão a vida. Essa percepção subjetiva, quase atemporal, no sentido que não se sabe ao certo quando o ser humano iniciou suas tratativas internas para explicar o metafísico; nem mesmo quando surgiu a primeira manifestação religiosa na história humana. Certo é que em pleno século XXI, mediante a revolução do conhecimento em grau aceleradíssimo inclusive com o uso de inteligência artificial, ainda mantemos sistemas religiosos que se propõe oferecer respostas metafísicas as incertezas humanas.
Não cabe aqui, uma defesa dos institutos religiosos, bem estabelecidos por suas estruturas, hierarquias, ritos e demandas. Sem embargo, pensar que a espiritualidade é inerente ao ser, pelo menos para a imensa maioria, e que esta faceta da vida humana revela-se principalmente nas enfermidades terminais quando, especialmente, lidamos apenas com terapias paliativas, aguardando que o fenômeno da morte se manifeste em definitivo. Nestes quadros é muito perceptível a necessidade do exercício de alguma espiritualidade que possa gerar conforto aos que sofrem (paciente, familiares, amigos, equipe de saúde que acompanha o terminal e outros).
Todavia a espiritualidade é muito mais importante no trajeto de vida porque ela produz benefícios vários que auxiliam no equilíbrio da saúde integral do individuo. Veja bem a espiritualidade não é capaz por si só de impedir o fenômeno da enfermidade e em ultimo estágio da morte, ela é um fator positivo de esperança, de cuidado, acolhimento que equilibra os sentimentos e emoções dos indivíduos permitindo o melhor aproveitamento das terapias propostas pela área da saúde, em todo o seu espectro terapêutico. A espiritualidade em sua subjetividade traz consigo uma certeza de que há aspectos da vida que estão para além da realidade vivida e que apontam para um viver eterno feliz e livre de todas as dores e mazelas da vida cotidiana. Este fato associado aos ritos que indicam a ligação do ser com o eterno trazem, para si, certezas que outras áreas profissionais não conseguem oferecer.
Portanto, no cuidado com a saúde deve existir uma vivência espiritual consistente, dinâmica, reflexiva, temporal, responsável e amorosa geradora de qualidade de vida consistente e com fundamentos palpáveis para o enfrentamento das enfermidades e da morte, porque elas virão, afinal o corpo convive com uma incógnita na equação do tempo que geri o existir.
Abrace a espiritualidade saudável e viva bem o tempo possível.
Sugestão para leitura:
Fernandes A. Como a espiritualidade pode influenciar a saúde das pessoas? 2020. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/noticias/como-a-espiritualidade-pode-influenciar-a-saude-das-pessoas/
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