O suicídio na infância é uma questão de saúde pública grave e preocupante, que afeta crianças e adolescentes de países em desenvolvimento e desenvolvidos. Globalmente, o suicídio é uma das principais causas de morte entre crianças e adolescentes, embora os dados específicos sobre a infância sejam menos abrangentes.
De acordo com pesquisas1,2 sobre suicídio as crianças pequenas que tentam suicídio têm seis vezes mais probabilidade do que seus pares de tentar suicídio novamente na adolescência. Para prevenir a morte infantil e tentativas subsequentes de suicídio durante a adolescência, é importante intervir o mais rápido possível para ajudar crianças em risco.
Em muitos países, o suicídio representa uma causa significativa de mortalidade em jovens, com variações na prevalência e na incidência dependendo do contexto cultural, econômico e social. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) indicam que, embora o número total de casos ainda seja menor em comparação com outros grupos etários, o suicídio entre crianças tem mostrado um aumento preocupante nas últimas décadas.
Em 2022, um estudo publicado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) destacou que os casos de suicídio entre crianças menores de 10 anos estavam aumentando, evidenciando uma necessidade urgente de intervenções específicas e estratégias de prevenção direcionadas. Além disso, a ausência de dados sistematizados e a dificuldade em identificar sinais precoces de ideação suicida complicam a situação. A Organização Mundial da Saúde chama atenção para a necessidade de estratégias de prevenção robustas e políticas públicas que abordem as causas subjacentes do suicídio infantil. No Brasil, o suicídio infantil é uma questão crescente e preocupante.
Identificar e responder aos sinais de alerta de suicídio na infância é crucial para a prevenção e intervenção precoce. As crianças, muitas vezes, não têm a mesma capacidade de expressar seus sentimentos e pensamentos como os adultos, o que pode dificultar a detecção de ideação suicida. No entanto, alguns sinais de alerta podem indicar um risco elevado.
Mudanças repentinas no comportamento, como isolamento social, alterações no desempenho escolar e uma perda acentuada de interesse em atividades previamente apreciadas, podem ser indicativos de sofrimento emocional. É fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos a essas mudanças e busquem apoio quando necessário. Um dos sinais de alerta mais comuns é a presença de sentimentos persistentes de tristeza e desesperança.
Crianças que falam frequentemente sobre se sentir tristes, desamparadas ou sem esperança podem estar expressando sinais de que estão lutando com pensamentos suicidas. Além disso, mudanças no padrão de sono e apetite, como insônia, pesadelos frequentes ou perda de peso significativa, também podem ser sinais de que a criança está enfrentando um sofrimento emocional profundo. A observação cuidadosa e a comunicação aberta com a criança são essenciais para identificar e entender esses sinais.
Outro aspecto importante é o comportamento autodestrutivo ou a busca por meios para se ferir. Se uma criança demonstra comportamentos autolesivos, como cortes ou queimaduras, ou se manifesta interesse em métodos de suicídio, isso é um sinal crítico de alerta. É importante que qualquer comportamento desse tipo seja tratado com seriedade e que a criança receba uma avaliação psicológica imediata.
A presença de discussões sobre a morte ou o desejo de não estar mais viva, mesmo que pareçam superficiais, deve ser abordada com atenção e cuidado. A intervenção precoce é crucial para prevenir o suicídio infantil. Se sinais de alerta são identificados, é essencial procurar ajuda de profissionais de saúde mental especializados em trabalhar com crianças e adolescentes. psicólogos, psiquiatras e conselheiros escolares podem fornecer uma avaliação adequada e desenvolver um plano de tratamento que inclua terapia individual, apoio familiar e, se necessário, medicação.
A criação de um ambiente de apoio, onde a criança se sinta segura e compreendida, é fundamental para ajudar a superar o sofrimento. Finalmente, a educação e a conscientização sobre saúde mental desempenham um papel vital na prevenção do suicídio infantil.
Programas de educação nas escolas que ensinem sobre saúde emocional, habilidades de enfrentamento e como buscar ajuda podem ajudar a reduzir o estigma associado à saúde mental e encorajar crianças a expressarem suas preocupações. Além disso, envolver a família e a comunidade em iniciativas de conscientização pode criar uma rede de suporte que ajude a identificar e abordar problemas de saúde mental de maneira mais eficaz.
Sugestão para leitura:
1. Ruch DA, Heck KM, Sheftall AH, Fontanella CA, Stevens J, et al. Characteristics and precipitating circumstances of suicide among children aged 5 to 11 years in the United States, 2013-2017. JAMA Network Open. 2021; 4(7):e2115683-e2115683.
2. Hua LL, Lee J, Rahmandar MH, et al. American academy of pediatrics, committee on adolescence. Suicide and Suicide Risk in Adolescents. Pediatrics. 2024; 153(1):e2023064800.
3. Agência Brasil. Fiocruz alerta para aumento da taxa de suicídio entre criança e jovem. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-02/fiocruz-alerta-para-aumento-da-taxa-de-suicidio-entre-crianca-e-jovem
4. Nationwide Childrens. Disponível em: https://www.nationwidechildrens.org/research/areas-of-research/institute-for-mental-and-behavioral-health-research/suicide-prevention-and-research
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